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Lourenço Cazarré



Lourenço Paulo da Silva Cazarré (29 de julho de 1953) nasceu em Pelotas, mas viveu sua infância em Bagé, na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai. Em 1963, após o falecimento da mãe, retornou com o pai para Pelotas, onde cresceu em contato com pessoas e cenários que mais tarde viriam a figurar como temas e personagens em suas obras.

Depois de formar-se jornalista pela Universidade Católica de Pelotas em 1975, Cazarré trabalhou por cerca de um ano como repórter na sucursal de Pelotas da Companhia Caldas Junior, que editava os jornais Correio do Povo, Folha da Manhã e Folha da Tarde. Em junho de 1976, transferiu-se para Florianópolis, onde permaneceu por seis meses como repórter da sucursal local da Caldas Junior, antes de integrar a equipe do jornal O Estado.

No final de 1977, começou a trabalhar também como redator do Jornal de Brasília. Nesse período, dedicava seus raros momentos livres para exercitar a escrita de contos e crônicas. Como resultado deste período, recebeu, em 1980, seu primeiro prêmio literário pelo conto a “Enchente”, que narra, segundo o escritor, “a alteração do cotidiano das velhas corocas que frequentavam a igreja da Luz a partir do momento em que Pelotas é tomada pelas águas e os bagres e jundiás ocupam as ruas da cidade” (LC).

No entanto, sua carreira literária começou a deslanchar em 1979, período no qual começou a escrever Agosto, Sexta-Feira, Treze, seu primeiro romance. Publicada em 1981, esta obra, segundo Cazarré, trata-se de uma sátira, de “uma mal-sucedida tentativa de golpe militar numa fictícia republiqueta latino-americana” (LC).

A partir de então, o reconhecimento da qualidade literária das obras de Cazarré passou a ser evidenciado em diversos momentos: o escritor venceu a I Bienal Nestlé, em 1982, com o romance O calidoscópio e a ampulheta – o qual “narra as desventuras de um ditador livremente inspirado em Getúlio Vargas durante o tempo em que permanece, junto com seus ministros, aprisionado num porão” (LC) – e a II Bienal, em 1984, com Enfeitiçados todos nós, recebendo o 1º lugar na categoria contos.

O primeiro prêmio Nestlé permitiu a Cazarré regressar a Pelotas, onde se instalou no Laranjal por aproximadamente sete meses e dedicou-se à escrita do livro que lhe concederia o segundo prêmio na mesma categoria, em 1984.

Com o esgotamento de seus recursos financeiros, o escritor retornou a Brasília, no início de 1983, e passou a trabalhar em uma assessoria de imprensa na Câmara. Depois, tendo sido aprovado em um concurso para professor do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, retornou para Pelotas, mantendo-se em trânsito entre o Rio Grande de Sul e Santa Catarina por alguns meses, até desistir da carreira acadêmica e transferir-se definitivamente para Brasília.

Já em Brasília, em 1985, a convite de Paulo Condini, que coordenava a editora Atual, começou a escrever livros para jovens: o primeiro foi O mistério da obra-prima. No ano de 1987, exerceu por alguns meses a função de chefe de editoração da Editora Universidade de Brasília, até que, em 1988, assumiu, através de concurso público, o cargo de redator de discursos na Consultoria Legislativa do Senado Federal: “Ali tive, por fim, mais tempo e condições para escrever textos aprofundados sobre temas importantes da realidade brasileira” (LC).

O autor conta que sua primeira experiência de leitura foi alguns trechos de O tempo e o vento, de Érico Veríssimo, mas que, no entanto, veio a tomar gosto pela leitura aos dez anos, quando começou a frequentar a Biblioteca Pública Pelotense, da qual passou a ser visitante assíduo.

Cazarré, que afirma ter sido fascinado por escritores como Garcia Márquez e Vargas Llosa no início da década de 1980, aponta entre seus principais interesses autores como o italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa (O leopardo). Segundo informa o escritor, “[d]a literatura em língua alemã eu leio e releio Thomas Mann (Morte em Veneza) e Kafka (A metamorfose, O artista da fome). Dos franceses, prefiro os contistas Merrimée e Maupassant. Dos americanos, Melville (Bartleby, o escriturário), Faulkner (Enquanto agonizo) e Hemingway (O velho e o mar). Meus autores russos prediletos são Tchecov (A estepe) , Gogol (O capote) e Tolstoi (A morte de Ivan Ilitch). De língua espanhola, fico com Borges (O informe de Brodie). Entre os contistas brasileiros, prefiro João Simões Lopes Neto e Monteiro Lobato e das narrativas mais longas, gosto de Vida secas, de Graciliano Ramos. Não sou um admirador de autores, gosto de determinados livros” (LC).

Sua produção é vasta: o autor possui mais de quarenta obras publicadas, muitas delas premiadas, e dezenas de participações em coletâneas. Além disso, soma-me ao currículo de Lourenço Cazarré um número significativo de obras que foram traduzidas para outras línguas e códigos estéticos – como é o caso do curta-metragem Meia encarnada, dura de sangue, exibido pela Rede Globo como episódio da série Brava Gente!, em 2000, inspirado do conto de mesmo nome e do filme Amparo, de 2012, dirigido por Ricardo Pinto e Silva, inspirado em Nadando contra a morte, ganhador do Prêmio Jabuti de 1999.

Referência: Entrevista concedida por Lourenço Cazarré à equipe do site Amigos de Pelotas, em 02 de abril de 2009.

Fonte: E-arquivo Lourenço Cazarré

Colaboração de Simone Xavier Moreira