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Mateus Gomes Viana


Mateus Gomes Viana, filho do tenente Baltazar Gomes Viana e sua esposa Joana Margarida da Silveira, nasceu em Pelotas (à época, Freguesia de São Francisco de Paula), em 14 de setembro de 1809. Foi casado com Maria Francisca Antunes Maciel, com quem teve seu único filho, Francisco Antunes Gomes da Costa (1838-1912), o qual, em 1857, viria a ser um dos fundadores da revista literária Araribá e, mais tarde, tornar-se o Barão do Arroio Grande.

De acordo com as informações constantes em sua nota biográfica na Revista do 1o Centenário de Pelotas (30 dez. 1911, p. 46), Viana “teve alguma instrução primaria e secundaria haurida nas aulas dirijidas pelo padre Felicio e Francisco Condal”. João Simões Lopes Neto, o autor da nota, afirma ainda que Viana, embora contrariado, dedicou-se por algum tempo ao comércio antes de ter sido por vários mandatos eleito vereador e, inclusive, presidente da Câmara Municipal de Pelotas.

Através das notícias de Pelotas veiculadas pelo jornal O Noticiador, publicado na cidade de Rio Grande entre os anos de 1832 e 1835, foi possível identificar Viana como um dos membros fundadores da Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional da Vila de São Francisco de Paula. A edição de 7 de fevereiro de 1832 aponta-o como o sócio que recebeu mais votos para compor o conselho. Embora tenha ocupado o cargo de 2o secretário (O NOTICIADOR, 7 fev. 1832, p. 38), poucos meses depois passou a assinar as atas e correspondências como 1o secretário. Nas eleições dos dois anos seguintes Viana manteve-se entre os mais votados e continuou ocupando o mesmo cargo.

Era ele também o responsável pelas assinaturas deste periódico em Pelotas.


PRIMEIRAS PUBLICAÇÕES POÉTICAS

Em dezembro de 1834 publicou no jornal O Noticiador dois textos poéticos, nos quais é possível perceber a exultação à liberdade e à esperança depositada no jovem imperador D. Pedro II, que contava, à época, oito anos de idade: Elogio recitado no Teatro "Sete de Abril" no faustíssimo dia 2 de dezembro de 1834 e Hino ao mesmo dia.

                   
(O NOTICIADOR, 15 dez. 1834, p. 2).

Nesse período, pouco anterior a Revolução, Viana declarava-se adepto das questões que viriam a consolidar-se como os principais ideais farroupilhas.


PARTICIPAÇÃO NA REVOLUÇÃO FARROUPILHA

Na edição de 10 de novembro de 1834 d'O Noticiador, Mateus Gomes Viana é referido como tenente secretário da Guarda Nacional, porém, em 7 de maio do ano seguinte (O NOTICIADOR, 7 maio 1835, p.3), Viana já está no posto de major, função que, segundo Simões Lopes Neto (1911), passará a ocupar junto aos revoltosos a convite de Bento Gonçalves e do general Antônio de Sousa Neto.

Adão Monquelat e Geraldo Fonseca (1985, p.25) transcrevem do jornal O Liberal Rio-Grandense, de 26 de maio de 1836, um poema de Viana dedicado “Ao Illm. e Exm. Snr. Coronel Commandante das Armas, BENTO MANOEL RIBEIRO, e aos bravos de seu comando”. Na estrofe abaixo, pode-se verificar a posição de Mateus Gomes Viana diante dos conflitos que se estabeleciam, ao tratar os farroupilhas como heróis e os monarquistas como anarquistas:

                    Hoje a testa de heróis do Continente,
                    Impávido, constante, e sempre forte
                    Rompendo d'Anarquia a vil cohorte
                    Nova gloria te espera auri-fulgente.
                    (apud MONQUELAT; FONSECA, 1985, p. 25).


FILIAÇÃO AOS MONARQUISTAS

No entanto, muito em breve viria a abandonar a revolução por identificar nesta intuitos republicanos. Desta forma, apresentou-se como monarquista ao presidente da Província, José de Araújo Ribeiro, e foi convidado por este para ser seu secretário. Ainda no início da Revolução, o presidente foi preso e deportado, assim como o major Viana, que foi preso e conduzido a Porto Alegre, onde permaneceu até que novamente mudasse a presidência da Província diante da prisão de Antero J. de Brito pelos farrapos. Nesse contexto, voltou a ocupar o cargo de secretário da província (REVISTA..., 30 dez. 1911, p. 46).


VIDA PÚBLICA

Segundo Lopes Neto (1911), Viana foi o primeiro promotor público da cidade em 1835. Também advogou no foro da cidade, razão pela qual recebeu o apelido de “Mateusinho das leis”.

De acordo com Ari Martins (1978, p. 613) Viana publicou artigos nos jornais O Liberal Rio-Grandense (1835-1836) e no Correio de Porto Alegre (1837). O Liberal Rio-Grandense, segundo informações veiculadas no Almanak do Rio Grande do Sul para o ano de 1900 (apud MONQUELAT; FONSECA, 1985, p. 23), impresso na Tipografia do Mercantil do Rio Grande, tinha como objetivo apoiar o governo de Araújo Ribeiro, sendo Viana seu principal redator. Em 1837, Viana fundou, em Porto Alegre, o Correio de Porto Alegre (1837), o qual circulou por menos de um ano (ALMANAK, 1900, p. 257 apud MONQUELAT; FONSECA, 1985, p. 24).

Provavelmente, Mateus Gomes Viana tenha sido o primeiro pelotense a publicar poesia. Faleceu em Rio Grande, em 1939, com apenas 30 anos de idade.

Referências:
LOPES NETO, João Simões. Revista do 1° Centenário de Pelotas: Publicação auxiliar para a comemoração projetada pela Biblioteca Pública Pelotense. Pelotas, 1912. In: RUBIRA, Luís (Org.). Almanaque do Bicentenário de Pelotas. Santa Maria/RS: PRÓ-CULTURA RS/ Gráfica e Editora Pallotti, 2012.
MARTINS, Ari. Escritores do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. da UFRGS; IEL, 1978.
MONQUELAT, A. F.; FONSECA, G. R.. Coletânea e notas bibliográficas de poetas pelotenses. Pelotas: Edição do autor, 1985.
O NOTICIADOR: jornal político, literário e mercantil. Rio Grande: Tipografia de Francisco Xavier Ferreira, 1832-1835.


Fonte: MOREIRA, Simone Xavier. A formação da Princesa do Sul: primórdios culturais e literários. 2013. 153 f. Dissertação – Programa de Pós-Graduação em Letras: Mestrado em História da Literatura. Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande.

Colaboração de Simone Xavier Moreira